segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Potências emergentes juntam forças para a queda de braço em Copenhage


Tudo leva a crer que a conferência de mudanças climáticas em Copenhage será marcada por uma forte queda de braço entre os países desenvolvidos e as principais potências econômicas emergentes. Quem deve assumir metas obrigatórias, quais serão os percentuais de redução e como os países industrializados investirão recursos nos países em desenvolvimento para adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças do clima serão alguns dos principais pontos em disputa. Nesse sábado, de forma discreta, bem ao estilo chinês, Beijing liderou um encontro de sete horas com o Brasil, África do Sul e Índia, numa reunião pré-Copenhage, para alinhar um posicionamento do grupo e esboçar uma proposta conjunta.

O recém criado grupo Basic (Brasil, África do Sul, China e Índia) definiu neste esboço quatro pontos considerados inegociáveis em Copenhage:

1 - Não serão aceitas metas obrigatórias de corte de emissões de gases do efeito estufa para os países em desenvolvimento;
2 - Nenhum tipo de análise, estudo, ou revisão de ações ligadas às mudanças climáticas em países em desenvolvimento devem ser realizadas sem suporte financeiro e tecnológico dos países desenvolvidos;
3 - Não estabelecer o conceito de "ano pico". (Isto é, os países industrializados exigem que as economias emergentes não permitam o aumento de suas emissões a partir de uma determinada data. Como, por exemplo, foi sugerido para a Índia o ano de 2025.)
4 - Nenhuma barreira comercial poderá ser imposta aos países em desenvolvimento em nome das mudanças climáticas.

Entre amanhã e quarta-feira, o principal negociador chinês para as mudanças climáticas, Xie Zhenhua, apresentará o esboço da proposta do Basic em Copenhage, numa primeira rodada de negociações preliminares à grande conferência, que começa na semana que vem e irá até o dia 18 de dezembro.

A união entre esse grupo de países, que estranhamente não inclui a Rússia, um dos quatro Brics (aliança formada por Rússia, China, Índia e Brasil) foi ressaltada pelo ministro do meio ambiente da Índia, em reportagem do jornal Hindustan Times. "Se um dos itens que consideramos inegociáveis for violado, não sairemos da negociação sozinhos. Nós iremos coordenar nossa saída em conjunto", ressaltou Jairam Ramesh, na capital chinesa.

A divulgação desses itens inegociáveis ocorreu dias depois de Brasil, China e Índia anunciarem as suas metas voluntárias de redução dos gases do efeito estufa, dando um efeito moral importante para que suas colocações tenham mais força na mesa de negociação. Vamos ver como os países desenvolvidos que exigem metas obrigatórias para os emergentes para o próximo período de compromisso pós-Kyoto (2012 a 2020) reagirão a esses itens "não negociáveis".

Carros mais ecológicos

Em breve, o consumidor brasileiro poderá decidir que carro comprar de acordo com o nível de emissões de gases do efeito estufa do automóvel, podendo dar sua parcela de contribuição para o equilíbrio do clima do planeta.

Amanhã, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, anuncia o projeto "Nota Verde", que prevê uma classificação com um ranking de estrelas para demonstrar níveis de emissões de poluentes e de gases de efeito estufa. Quanto maior o número de estrelas, menor o seu índice de emissão de monóxido de carbono, hidrocarbonetos, óxidos de nitrogênio e dióxido de carbono.

A nota, criada pelo Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve/Ibama), reflete a emissão dos veículos fabricados de acordo com a Fase L-5 do Proconve, que iniciou em janeiro de 2009.


domingo, 29 de novembro de 2009

Marina Silva em Copenhague


Marina Silva, que como ministra do Meio Ambiente sempre participou ativamente das conferências de mudanças climáticas da Onu, marcará presença em Copenhague. A princípio, como informou sua assessoria de imprensa, a senadora - candidata à presidência da República - acompanhará as negociações entre os dias 10 e 16 de dezembro, não ficando para os dois últimos dias, quando os chefes de Estado chegam para as tomadas de decisões finais.

Marina é uma figura central nas discussões sobre o aquecimento global no Brasil e vem encabeçando no Senado um movimento para que as metas brasileiras de corte de emissões de gases do efeito estufa sejam sustentadas por lei.

"Defenderei no Senado a ideia de inserir a meta anunciada no projeto de lei que trata da Política Nacional de Mudanças Climáticas. É preciso ratificar seu status de objetivo de longo prazo, a ser sustentado por quaisquer governos. O Brasil está com tudo a seu favor e pode brilhar em Copenhague. Só não podemos permitir que setores mais atrasados do governo e do agronegócio tenham êxito na desconstrução da legislação que sustenta as medidas que levaram a esses resultados. O Brasil deve assumir a vocação de líder e estar à altura das responsabilidades nacionais e globais que isso implica", escreveu Marina em artigo publicado em seu
blog.

Marina e Dilma

O presidente Lula já confirmou sua participação, assim como a ministra da Casa Civil, Dilma Houssef, que na corrida eleitoral vem tentando incorporar um discurso mais "verde" à sua campanha. Teremos, portanto, duas candidatas a presidência presentes em Copenhague.

sábado, 28 de novembro de 2009

Mais que vontade política


Nos últimos dias, o Brasil desempenhou um papel importante no debate das mudanças climáticas. Foram dois anúncios muito positivos, começando pelo índice de menor desmatamento na Amazônia nos últimos 21 anos. Em seguida, veio a divulgação de metas de redução de gases do efeito estufa entre 36,1% e 38,9% até 2020. Essa atitude puxou a responsabilidade das grandes economias emergentes a também se comprometerem, mesmo que voluntariamente, com números de diminuição de emissões, além de deixar os países desenvolvidos ainda mais pressionados a assumirem metas ambiciosas.


Até pouco tempo atrás, o Brasil era totalmente contrário a assumir qualquer compromisso tangível nesse sentido, alegando que apenas os países desenvolvidos tinham responsabilidade histórica com o problema do aquecimento global. Sendo assim, por mais que os números brasileiros sejam passíveis de dúvidas, pois o cálculo de redução foi feito em cima de uma previsão de emissões futuras, ao menos é uma sinalização política importante. E nesses momentos que antecedem à conferência da ONU para mudanças climáticas, a boa vontade política conta. E muito.


"O Brasil terá um papel chave em Copenhage, liderando as nações em desenvolvimento e pressionando os países desenvolvidos a assumirem seus compromissos", afirma Andrea Souza Santos, coordenadora de Mudanças Climáticas e Sustentabilidade do Ministério do Meio Ambiente.


Internamente, no entanto, sabemos que o país ainda tem passos muito importantes a dar para que consiga perpetuar essa curva de queda do desmatamento e cumprir suas metas de redução de emissões. O modelo econômico que vem sustentando o crescimento do Brasil é baseado na extração direta das suas riquezas naturais, seja soja, carne, minério de ferro, entre outros produtos de exportação. A cada três toneladas de carne vermelha consumida no mundo, uma vem do Brasil, e isso tem um grande impacto ambiental. Hoje, o principal vetor de desmatamento na Amazônia é justamente a pecuária.


“No momento em que a empresa financiada pelo governo investe na região amazônica e monta uma unidade com capacidade para abater milhares de animais por dia, está sinalizando para os produtores que eles podem desmatar e ampliar a produção, porque os animais serão comprados”, comenta André Muggiati, coordenador da campanha de pecuária do Greenpeace.

De acordo com Muggiati, os frigoríficos acusados de comprar boi de fazendas envolvidas no desmatamento da Amazônia receberam a maior parte dos US$ 2,65 bilhões investidos pelo BNDES em troca de ações para o governo federal, entre 2007 e 2009. Esses recursos foram distribuídos em cinco grandes empresas, responsáveis por 50% das exportações de carne e couro brasileiros.


O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) durante todo o ano de 2009 sofreu duras críticas do movimento social e de organizações ambientalistas por financiar projetos de alto impacto ambiental de grandes corporações. Indignados com a forma como o banco vem destinando seus recursos, os movimentos sociais criaram uma articulação de 30 organizações da sociedade civil para organizar o I Encontro Sul-Americano de Populações Afetadas pelos Projetos Financiados pelo BNDES. Segundo a Articulação, chamada Plataforma BNDES, apenas 10% dos recursos investidos pelo banco em 2008 foram direcionados para micro e pequenos empreendimentos.


"Assim como todo grande banco, o BNDES precisa pensar no aspecto da sustentabilidade dos projetos que financia", disse a coordenadora, ressaltando ainda que o papel de gestor do Fundo Amazônia aumenta ainda mais a responsabilidade do órgão em financiar projetos que estejam em dia com as questões socioambientais.


Para Paulo Moutinho, pesquisador do IPAM (Instituto de Pesquisas da Amazônia), o "crescimento econômico futuro vigoroso se dará em países que tomarem as decisões certas hoje: conservação de florestas (grandes armazéns de carbono), desenvolvimento tecnológico de energias limpas e renováveis e um destino mais nobre ao petróleo". As decisões em favor da conservação das florestas brasileiras, por exemplo, representa um tipo de poupança ou investimento de longo prazo, na visão de Moutinho.


"Parte significativa do crescimento futuro do PIB do Brasil poderá ser resultante da uma economia de baixo carbono que decidirmos implementar hoje. O país poderá ingressar na economia global de REDD (Reduções de Emissões de Desmatamento e Degradação Florestal), atualmente em debate na Convenção de Mudanças Climática da ONU. A sociedade brasileira tem tudo para dar um passo rumo a uma economia forte e com crescimento relevante do PIB, um PIB limpo", escreveu o pesquisador em seu blog, mencionando a criação do mecanismo de REDD, que prevê compensações financeiras para projetos de combate ao desmatamento, como um pagamento pelos serviços ambientais prestados pelas florestas. O Brasil é defensor da criação do REDD e terá o tema como um de seus focos em Copenhage.


Portanto, para que as metas anunciadas pelo Brasil sejam de fato cumpridas e façam mais do que mostrar vontade política em Copenhage, é preciso que o governo adote de forma consistente um modelo de desenvolvimento sustentável.


quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Desmatamento continua a ser maior fonte de emissões no Brasil

Em 15 anos, o Brasil emitiu 2,2 bilhões de toneladas de gases do efeito estufa. Esse número revela um aumento de 62% das emissões do país entre os anos de 1990 e 2005.


O desmatamento continua a ser o maior vilão, com 57,5% das emissões totais, seguido pela atividade agrícola (22,1%) e pelo setor de energia (16,4%). Ou seja, as terríveis queimadas ilegais na Amazônia, muitas delas realizadas para a abertura de pastos para pecuária, respondem pela maior parte desse aumento.


Esses dados são preliminares e fazem parte do tão esperado Inventário Nacional, pesquisa conduzida pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e fundamental para alicerçar as políticas públicas nacionais em relação à questão das mudanças climáticas.


Segundo o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, o crescimento das emissões brasileiras foi abaixo das taxas de China e Índia, que mais que dobraram suas emissões no período.

China também levará metas à Copenhage


A 10 dias da reunião do Clima, a China, maior emissora de gases do efeito estufa atualmente, anunciou que reduzirá entre 40% e 45% a emissão de dióxido de carbono até 2020, comparado aos níveis de 2005. Com isso, o mundo respira um pouco mais aliviado, uma vez que a falta de compromisso dos chineses em assumir números de redução de emissões, seria um balde de água fria nas negociações em Copenhage.

No entanto, ambientalistas acreditam que a China precisa fazer mais e o índice de redução proposto está aquém do necessário para conter causas drásticas do aquecimento global.

"Dada a urgência e a magnitude da crise climática, a China precisa assumir medidas mais eficazes de combate ao aquecimento global", afirmou Ailun Yang, do Greenpeace na China.

O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, confirmou presença no que se configura ser a mais importante reunião ambiental realizada desde a Rio 92.


Desenvolvimento em questão

O modelo de desenvolvimento que será adotado pelo Brasil nos próximos anos será fundamental para que o país cumpra suas metas de combate ao desmatamento e, por consequência, de redução das emissões de gases do efeito estufa.

A coordenadora de Mudanças Climáticas e Sustentabilidade do Ministério do Meio Ambiente, Andrea Souza Santos, integrante da delegação brasileira nas negociações do Clima em Copenhage, afirmou que o BNDES precisa repensar sua política de desenvolvimento e as atividades que vem financiando, como, por exemplo, a pecuária na Amazônia.

"Assim como todo grande banco, o BNDES precisa pensar no aspecto da sustentabilidade dos projetos que financia", disse a coordenadora, ressaltando ainda que o papel de gestor do Fundo Amazônia aumenta ainda mais a responsabilidade do BNDES em financiar projetos que estejam em dia com as questões socioambientais. Para ela, a criação de uma nova política de desenvolvimento já vem sendo desenhada e negociada pelo Ministério do Meio Ambiente com diversos setores da economia.

Vale lembrar que esse ano, o financiamento do BNDES a grandes frigoríficos acusados de compra de bois oriundos de fazendas que desmatam na Amazônia, foi altamente criticado pelo Greenpeace e outras entidades ambientalistas e gerou grande repercussão internacional. Entre 2007 e 2009, as cinco maiores empresas do setor, responsáveis por mais da metade das exportações brasileiras de carne, receberam US$ 2,6 bilhões do BNDES em troca de ações de empresas como a Marfrig, JBS-Friboi e Bertin.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

BNDES 2: a polêmica de Belo Monte


Entre os participantes da manifestação das populações atingidas pelos projetos financiados pelo BNDES, estava Josiney Mendes Arara, representante de 17 aldeias indígenas do Xingu.

Ele deixou sua aldeia, localizada em Volta Grande do Xingu, no município de Altamira (PA), para vir ao Rio de Janeiro e ser um porta-voz das comunidades indígenas que serão impactadas pela instalação da hidrelétrica de Belo Monte, cujo leilão seria realizado no próximo dia 21 de dezembro, mas foi adiado por conta de problemas no licenciamento ambiental.

Josiney afirmou que se Belo Monte for aprovada, 17 etnias indígenas serão afetadas e muitas delas terão que se mudar. "Acabando com o Rio Xingu, acabam também com a nossa vida e a nossa cultura. O peixe vai sumir, a caça vai sumir. Não teremos como sobreviver. Então, as populações vão ter que sair. E para onde?", questionou a liderança.

Em São Paulo, o cacique Raoni também se manifestou contra Belo Monte durante concerto do cantor e ambientalista Sting. Os movimentos ambientalistas e de proteção às comunidades tradicionais deverão levar protestos à Copenhage, aproveitando a visibilidade das negociações sobre mudanças climáticas.

Para Josiney, as populações indígenas foram desrespeitadas e o BNDES irá investir em um projeto que fere os direitos das comunidades. Segundo ele, as pessoas afetadas na região estão dispostas a um conflito para defender o direito de permanecer em suas terras. "Estamos para matar e para morrer", disse ele, acrescentando que o governo brasileiro está ressuscitando uma verdadeira guerra. (Veja mais sobre a longa história de Belo Monte no blog do ambientalista Philip Fearnside).

Caso aprovada, a Usina de Belo Monte será a terceira maior do mundo e a segunda maior do Brasil, depois de Itaipu, com capacidade de gerar 11.233 MW de potência. Com investimentos previstos em US$ 20 bilhões, é considerada pelo governo um investimento estratégico e é uma das principais obras previstas pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). A expectativa é de que as obras da hiodroelétrica fiquem prontas em 2014, a tempo de suprir o aumento de demanda da economia brasileira e dos grandes eventos que o país sediará, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas de 2016.

A pergunta que não quer calar

Se as lideranças indígenas estão se manifestando categoricamente contrárias a instalação da usina de Belo Monte, se sua cultura e sua sobrevivência serão afetadas, como é que a Funai (Fundação Nacional do Índio) deu parecer favorável ao projeto?


BNDES na mira dos movimentos sociais

Lideranças indígenas, quilombolas, de pequenos agricultores, entre outros representantes do movimento social protestaram em frente à sede do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), no Rio de Janeiro, no mesmo momento em que o presidente do banco, Luciano Coutinho, recebia o ministro do meio ambiente, Carlos Minc, para o lançamento do estudo sobre os custos que as mudanças climáticas acarretarão à economia brasileira nos próximos anos.


Coincidentemente, enquanto lá dentro se falava de adequação a um novo modelo econômico, que esteja em sintonia com os desafios do desenvolvimento sustentável, lá fora os movimentos sociais justamente criticavam a forma como o Banco vem privilegiando projetos de elevados custos socioambietais conduzidos por grandes multinacionais brasileiras e estrangeiras em setores como etanol, energia, mineração, siderurgia, agropecuária e papel e celulose.


Revoltados com a forma como o banco vem destinando seus recursos, os movimentos sociais criaram uma articulação de 30 organizações, movimentos e redes da sociedade civil para organizar o I Encontro Sul-Americano de Populações Afetadas pelos Projetos Financiados pelo BNDES. Segundo a Articulação, chamada Plataforma BNDES, apenas 10% dos recursos investidos pelo banco em 2008 foram direcionados para micro e pequenos empreendimentos.


As lideranças da articulação criticam também a participação acionária do BNDES em várias grandes companhias envolvidas em atividades ilegais como desmatamento e uso de mão-de-obra escrava.


"No setor de mineração, por exemplo, é acionista da Vale, o que o torna responsável direto pelas cerca de duas mil demissões feitas pela mineradora recentemente. Na pecuária, a BNDES Participações (BNDESPar) detém 26,9% do capital do Bertin e 19,4% do capital do JBS Friboi – sendo, portanto, também co-responsável pelo desmatamento da floresta amazônica realizado pelos pecuaristas. No setor de etanol, o BNDES é um dos principais acionistas da Brenco (Companhia Brasileira de Energia Renovável), que sofre processo por exploração de trabalhadores em condições análogas à escravidão", descreveu documento da Articulação.


“Está na hora de expor e cobrar a co-responsabilidade do Banco em relação a estes impactos. Na verdade, o BNDES é responsável por um padrão de desenvolvimento centrado na especialização produtiva em setores intensivos em natureza, só beneficia as grandes empresas nacionais e multinacionais, com baixa geração de empregos e com grandes impactos sociais e ambientais nos territórios”, afirma Luiz Dalla Costa, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e da Via Campesina.

Obama vai a Copenhage, mas no dia errado


O presidente Barack Obama confirmou sua presença na conferência do Clima em Copenhage. No entanto, o presidente estará presente no dia 9 de dezembro, logo no início das discussões, e não nos dois últimos dias, chamados de "high-level segment", quando os chefes de Estado estão presentes e são realizadas as negociações finais. Como afirmou o Greenpeace Internacional em seu comunicado à imprensa: " the right city, the wrong date (cidade certa, na data errada)", ironizou. Para a organização, o presidente norte-americano deveria estar na conferência no dia 18 de dezembro, o que definitivamente teria real impacto nas negociações.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

"Pró-Sol"


A imagem acima impressiona. Trata-se de uma das maiores usinas geradoras de energia solar do mundo, instalada em Sevilha, na Espanha. Plantas como essa proliferam pelo mundo e poderiam ser altamente estimuladas no Brasil.

Energia solar mais barata

Até poucos anos atrás a energia solar era muito cara. No entanto, essa realidade vem mudando. Um estudo norte americano mostrou que os custos da energia elétrica gerada por painéis solares fotovoltaicos caíram 30% entre 1998 e 2007.

Realizado pelo Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL), do Departamento de Energia (DOE), o levantamento indica que as principais razões para a redução do custo estão relacionados a serviços como mão-de-obra, inversores, marketing, custos administrativos, entre outros.

Os pesquisadores estudaram 37 mil sistemas fotovoltaicos conectados à rede elétrica entre 1998 e 2007 em 12 estados norte-americanos. Durante este período o custo de instalação caiu de US$ 10,50 por watt em 1998 para US$ 7,60/W em 2007, o que representa uma queda anual média de 3,5% a dólares de 2007.

Esses dados são do mercado norte-americano, mas, certamente, refletem uma tendência mundial de queda no valor da energia solar. Até porque com a entrada da China nesse mercado - o país é hoje o segundo maior produtor de painéis solares do mundo - o preço dos painéis se tornou muito mais atraente e competitivo.

Alemães batem recorde em energia solar. Enquanto isso, no Brasil...

Pouco mais de um terço da energia solar gerada hoje no mundo está na Alemanha. Dos 15 gigawatts (GW), 5,3 GW são produzidos pelos alemães, que com isso levam o honroso título de maior produtor e consumidor de energia solar do mundo. Somente em 2009, cerca de 3GW a mais foram instalados, o equivalente à produção de três usinas de carvão de grande porte ou três usinas nucleares.

O recorde alemão ocorre graças ao plano do governo lançado há alguns anos que criou diversos incentivos fiscais e fontes de financiamento para promover o uso dos painéis solares fotovoltaicos no país.

E enquanto isso, no Brasil, crescem os investimentos em termelétricas. Da energia nova contratada nos leilões de energia do governo Lula, 63% são de termelétricas e 37% de hidrelétricas, como informou a jornalista Miriam Leitão.

Sem falar nos investimentos que serão feitos na construção de Angra 3, que consumirão quase R$ 7 bilhões.

Assim, o Brasil vai na contramão da história, sujando sua matriz energética e aumentando suas emissões de gases do efeito estufa. Sem falar no desperdício de seu enorme potencial solar. Segundo o Atlas Brasileiro de Energia Solar, produzido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a média diária de radiação solar que incide sobre o território brasileiro ao longo de um ano é de 5,5 quilowatts-hora por metro quadrado. Índice equivalente ao do Deserto do Saara.

“O lugar menos ensolarado do Brasil recebe 40% mais energia solar do que o lugar mais ensolarado da Alemanha”, ressalta o especialista Ricardo Rüther, do Laboratório de Energia Solar da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Vale lembrar que o Proinfa, programa do governo lançado em 2004 para estimular o uso de energias renováveis, previa que cerca de 3,3 mil megawatts (MW) de fontes alternativas entrassem no sistema até 2008. No entanto, levantamento feito esse ano mostrou que apenas 1,9 mil MW estavam sendo de fato gerados.

Obama e o clima

Os americanos, maiores emissores de gases do efeito estufa do mundo, mais uma vez já estavão sendo considerados os grandes fósseis das negociações climáticas. Toda esperança depositada em Obama, após anos de insensibilidade do goveno Bush para os problemas ambientais, estava anestesiada diante da possibilidade dos EUA sequer falarem em objetivos de redução de suas emissões.

No entanto, esse cenário deve mudar nos próximos dias. Pressionada diplomaticamente, a Casa Branca afirmou que muito em breve - antes da conferência em Copenhage (7 a 18 de dezembro) - anunciará objetivos de curto prazo para reduzir suas emissões de gases do efeito estufa.

O presidente Obama não pode antecipar-se ao Congresso americano, afirmou o porta-voz da Casa Branca. E o Congresso ainda discute mudanças na lesgislação de mudanças climáticas.

Segundo o jornal New Yor Times, os últimos avanços legislativos nos EUA consideraram uma redução de 17% de emissões em relação aos níveis de 2005 (medida aprovada pela Câmara) e uma Comissão do Senado aprovou uma lei no mês passado que estabelece uma meta de 20%, mas que pode ser enfraquecida em futuras negociações, afirmou o jornal norte-americano.

De qualquer forma, uma sinalização positiva do maior emissor de gases do efeito estufa do planeta na direção de assumir metas de redução e contribuir com o esforço global para conter os efeitos das mudanças climáticas deve ser comemorado. Ainda não é certa a presença do presidente Obama em Copenhage, mas tudo leva a crer que ele irá e será uma figura-chave para impulsionar as negociacões.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Gases do efeito estufa atingem maior concentração já registrada na atmosfera

A Organização Metereológica Mundial anunciou hoje em Genebra que os níveis de gases do efeito estufa (dióxido de carbono, metano e óxido nitroso) na atmosfera atingiram o seu maior patamar desde tempos pré-industriais. Desde 1990, o aumento de concentração desses gases aumentou em 26%. E apenas entre os anos de 2007 e 2008, o incremento foi de 1,3%.

Michel Jarraud, diretor da Organização alertou sobre a necessidade de ação urgente, pois esse dado pode estar empurrando o mundo rumo a indicações muito mais pessimistas sobre o aumento das temperaturas.

Esse dado, divulgado a poucos dias antes de se iniciar a conferência da Onu sobre mudanças climáticas, é mais uma evidência científica contundente da necessidade de se reduzir as emissões oriundas do crescimento da atividade econômica amplamente baseada no consumo de energia não renovável, sobretudo, de combustíveis fósseis.

Dos gases do efeito estufa, o CO2 é o que mais vem contribuindo para o aquecimento do planeta e o que mais se relaciona com a queima de combustíveis fósseis, o desmatamento e a mudança no uso da terra. No período de cinco anos (2003-2008), alerta a Organização, o CO2 foi responsável por 86% do aumento de radiações, o que significa quatro vezes mais do que todos os outros gases do efeito estufa combinados.

domingo, 22 de novembro de 2009

Marina versus Dilma


Vamos dar crédito a quem merece. A ex-ministra do Meio Ambiente e atual senadora pelo Acre, Marina Silva, merece todos os créditos pelo recente anúncio do menor indíce de desmatamento na Amazônia nos últimos 21 anos. Índice esse que permitiu ao presidente Lula anunciar as metas de redução de gases do efeito estufa - de quase 40% sobre o que é previsto para 2020 - que será muito repercutido na conferência do Clima em Copenhage, no início de dezembro.

Na corrida eleitoral, o presidente Lula tratou de colocar a ministra da Casa Civil, Dilma Houssef, como a porta-voz do meio ambiente, dando a ela todos os louros de defensora da floresta. Porém, dessa vez o presidente foi longe demais. Qualquer um que tenha acompanhado pelo menos um pouco o trabalho de Marina, sabe que ela sim é a maior responsável pela melhoria dos números na Amazônia. E que Dilma, quando ainda ministra de Minas e Energia, dizia que Marina era um entrave ao desenvolvimento, por ser "rígida demais" nas aprovações das licenças ambientais das novas usinas hidrelétricas.

Como escreveu muito bem a jornalista Miriam Leitão em seu blog e coluna no jornal O Globo: "Dilma não é desse mundo. Ela é, desde o começo do governo Lula, a principal responsável pelo modelo elétrico, pelas decisões na área que monitora, mesmo depois de sair de lá. Acredita nas grandes hidrelétricas no meio da Amazônia, quer construir rodovias, aposta na "indução do desenvolvimento na expansão das fronteiras agrícolas e minerais", palavras ditas no lançamento do PAC. Não há transposição sustentável que faça dela uma defensora do meio ambiente e da floresta."

Metas brasileiras: verdade ou ficção?


O Brasil anunciou que reduzirá entre 36,1% e 38,9% suas emissões de gases do efeito estufa sobre as estimativas previstas para 2020 caso nenhuma medida de contenção fosse tomada. Esse número é imponente e movimentou a comunidade internacional. Sarkozy, Merkel, entre outros chefes de estado não pouparam elogios à medida brasileira. Vale lembrar que esse compromisso é espontâneo. Ou seja, caso o país não cumpra o prometido, não haverá nenhum tipo de punição. Diferente dos países desenvolvidos, que precisam cumprir obrigatoriamente suas metas de redução dos gases do efeito estufa. No caso de suas reduções de emissões não serem suficientes, esses países precisam comprar créditos de carbono no mercado para atingirem suas metas.

Sem dúvida, como disse o próprio ministro Minc, o anúncio brasileiro vem para dar uma carga de ânimo e otimismo às negociações sobre o clima em Copenhage. Nos últimos dias, com a afirmação do presidente Obama de que não é possível se chegar a um acordo nesta conferência , o clima ficou pesado. O Greenpeace chegou a satirizar: agora o presidente Obama deve mudar seu slogan para Yes, we can't!

Porém, os números anunciados pelo Brasil e que, certamente, serão aplaudidos em Copenhage, não podem ser esquecidos internamente, sobretudo, em 2010, ano de eleição, em que muito se fala, mas pouco se faz. O cumprimento dessa meta de corte de emissoões está diretamente ligado à queda do desmatamento na Amazônia, que é responsável por cerca de 75% das emissões brasileiras. Portanto, cumpri-la nada mais é do que fazer o próprio dever de casa: o de conter a vergonhosa destruição da floresta amazônica.



Bella Center preparado para a COP15

Slogan da Conferência do Clima de Copenhage que tem a expectativa de sair com um novo acordo climático que substituirá o Protocolo de Kyoto após 2012
Bella Center preparado para a COP15

Slogan da Conferência do Clima de Copenhage que tem a expectativa de sair com um novo acordo climático que substituirá o Protocolo de Kyoto após 2012

sábado, 21 de novembro de 2009

O bom exemplo de Copenhague

Se dependesse dos bons exemplos dado pela Dinamarca na organização da conferência da Onu sobre mudanças climáticas, sairíamos de Copenhague com um acordo audacioso para conter as emissões dos gases do efeito estufa. Como veterana na cobertura dessas conferências – minha primeira foi em 2001 - posso afirmar que essa, em termos de produção, é a mais ecológica de todas. Começando pela alimentação no centro de conferência, que terá pelo menos 65% dos seus ingredientes de origem orgânica, e contará ainda com o uso de produtos oriundos de projetos de comércio justo, como o café e o chá servidos nas longas rodadas de negociação.

Além disso, os dinamarqueses decidiram não distribuir os famosos brindes, que muitas vezes viram lixo em poucas horas. O dinheiro economizado - nada menos do que US$ 700 mil – será transformado em bolsas de estudos para 11 estudantes de diferentes países do mundo, que durante dois anos farão uma especialização em temas ligados a meio ambiente em universidades dinamarquesas. “Queremos quebrar esse hábito de dar brindes em grandes eventos e gastar essa verba significativa de uma forma construtiva”, ressaltou a ministra do Desenvolvimento e Cooperação da Dinamarca, Ulla Tornaes.

A conferência, que ocorrerá entre os dias 7 e 18 de dezembro no Bella Center – mesmo centro de eventos onde o Brasil recebeu a notícia de que sediaria os jogos olímpicos de 2016 – deverá receber cerca de 12 mil pessoas, entre chefes de estado, jornalistas, cientistas, ambientalistas, etc.

Para estimular o uso do transporte público, a cidade de Copenhague oferecerá transporte gratuito em seus metrôs, trens e ônibus aos participantes da conferência. Aliás, vale lembrar que o metrô dinamarquês foi considerado o melhor do mundo por um ranking de especialistas e é capaz de ligar o centro da cidade ao aeroporto em apenas 15 minutos. Além disso, bicicletas também estarão disponíveis gratuitamente e 40 carros ecológicos com motoristas estarão a serviço dos participantes.

Vamos torcer que todas essas medidas socioambientalmente corretas tomadas pelos dinamarqueses sejam inspiradoras para os chefes de Estado que estarão negociando o futuro do acordo climático em Copenhage.