sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O mundo se aproxima de um fracasso histórico


“Só um anjo ou um sábio poderá descer nessa plenária para nos ajudar”, disse o presidente Lula

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, fez um discurso decepcionante na conferência de Mudanças Climáticas da Onu, em Copenhague. Sua chegada era ansiosamente aguardada por todos e havia um fundo de esperança de que Obama pudesse trazer uma proposta mais audaciosa para salvar as negociações do fiasco nesses momentos finais. No entanto, suas palavras só aumentaram o sentimento de frustração pelos corredores do Bella Center. Representantes da sociedade civil afirmam que o acordo que poderá ser fechado na Dinamarca não passará de uma “maquiagem verde” e não será suficiente para conter efeitos drásticos das mudanças do clima.

Lula discursou em plenária antes de Obama e foi aplaudido diversas vezes pela sua veemência em defender um acordo em Copenhague. Os aplausos para o presidente brasileiro vieram, sobretudo, pelo fato do Brasil mostrar-se flexível e cooperativo nas negociações. Mesmo não tendo obrigatoriedade, como um país em desenvolvimento, o Brasil irá contribuir financeiramente com o fundo global de combate as mudanças climáticas para ajudar países mais pobres a se adaptarem e mitigarem os efeitos do aquecimento global. “O Brasil está disposto a colocar dinheiro para ajudar os países mais pobres. Mas, não estamos de acordo que as figuras mais importantes do planeta assinem um documento só para dizer que assinaram um documento.

O tom de crítica do presidente Lula ao andamento das negociações também ajudou a esquentar o clima na, literalmente, gelada Copenhague. “Com meias palavras e barganhas não vamos encontrar uma solução. Participei de uma reunião até às 2h30 da manhã na qual eu preferia não ter participado. Certas discussões me lembraram do tempo em que eu era líder sindical e discutia com os empresários”, afirmou Lula referindo-se a queda de braço entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento durante a conferência. Ele acrescentou: “os países em desenvolvimento não devem pensar que o financiamento é uma esmola. Esse dinheiro é o pagamento pelos gases emitidos em 2 séculos por quem teve a chance de emitir e se desenvolver primeiro”, criticou.

Morales e Chavez

A posição americana foi extremamente criticada por outros países da América Latina. Em seguida aos pronunciamentos feitos na plenária, os presidentes da Bolívia, Evo Morales, e da Colômbia, Hugo Chavez, convocaram uma coletiva da imprensa, na qual criticaram duramente o modelo capitalista e os Estados Unidos. Chavez chegou a dizer que a Venezuela não assinará nenhum acordo que for definido em Copenhague, pois o mesmo foi feito “pelas costas” por um pequeno grupo de países, afirmou.

“O sistema capitalista está transformando a mãe Terra em mercadoria”, ressaltou Morales, acrescentando: “Eu só lamento a forma como essa conferência foi conduzida por um pequeno grupo de países poderosos que quer decidir por todos e excluir os menos desenvolvidos do processo”. E Chavez completou: “Nos Estados Unidos circulam 40% dos carros que circulam no mundo e a população norte-americana, que representa 5% da população mundial, consome 25% dos recursos do planeta. Esse é um capitalismo predatório que está destruindo a todos. O governo imperialista dos EUA está guiando o fracasso em Copenhague”, sublinhou o performático Chavez.

Desconfiança

O que podemos observar aqui em Copenhague é o enrijecimento das tensões entre os países desenvolvidos e as nações em desenvolvimento. Um tom de desconfiança se instalou nas negociações. Os Estados Unidos, que ontem anunciaram apoiar a criação de um fundo de US$ 100 bilhões por ano até 2020 para ser investido no combate ao aquecimento global, condicionaram a sua doação de recursos à transparência no cumprimento das metas de redução anunciadas pelas principais economias emergentes, como China, Brasil e Índia.

“Só investiremos esse dinheiro se, e apenas se, houver transparência”, disse Obama, acrescentando que “não há tempo a perder. As mudanças climáticas podem chegar a um ponto irreversível. É melhor agir do que falar”, ressaltou Obama. Porém, suas palavras convocando uma ação soaram vazias diante da incapacidade dos Estados Unidos em propor metas suficientes para reduzir as emissões dos gases do efeito estufa aos níveis recomendados pela ciência”.

O diretor executivo do Greenpeace nos EUA, Phil Radford, criticou: “Obama pediu ação aos países, mas ele mesmo não ofereceu nenhuma ação. Ele afirma que a diferença entre ricos e pobres precisa acabar no mundo, mas a asua visão de um acordo em Copenhague nos guiará a um aumento de 3 graus celsius na temperatura global e isso trará devastação para a África e para os países mais vulneráveis, como as ilhas”, apontou Radford.

Em relação à transparência, Lula afirmou: “os países tem que ter a capacidade de se auto-fiscalizar. Nós não viemos aqui para barganhar nada. Vamos cumprir nossas metas com nosso próprio dinheiro”, sublinhou.

Um comentário:

  1. Presidente Lula, não permita que dois grandes devastadores da natureza (Bunge e Yara) juntamente com o governo do estado de SC implantem o Projeto Anitápolis (mina de extração de fosfato a céu aberto) na cidade de Anitápolis/SC...
    O local onde será instalada a fosfateira fica entre a região do parque estadual da serra do tabuleiro e o parque nacional do campo dos padres em Urubici. Áreas de preservação permanente (APP).

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